Não Ame – Amar dói demais

Escreve uma amiga cincoentona na internet: Estou apaixonada. Oque faço?

Antes de responder coloco-me a garimpar lembranças deste sentimento que surge inesperadamente, em apenas um olhar, um frase distraída, um gesto de atenção um pouco maior e toma conta da gente como se não houvesse mais nada a não ser o desejo de estar perto e de respirar o mesmo ar da pessoa amada.

Os seres apaixonados ocupam o Olimpo e conversam com deuses, deitam-se no colo de Afrodite que os encoraja a seguir em frente e vivenciar este amor, mesmo sabendo de toda a dor que poderá causar, nada importa. Paixão é sinal de vida.

De repente, a pessoa mais sensata, se encontra como uma criança, insegura e perdida, medindo as palavras, repetindo diálogos imaginários, mas quando encontra o ser amado, a conversa ensaiada se esvai, um rubor lhe cobre o rosto e ela fica ali frágil e insegura como se fosse desmoronar.

O amor também não respeita idade, ela chega dos 20 aos 70, e sempre trazendo vida nova a seus eleitos. Os olhos brilham, a pele fica mais bonita, os pássaros cantam e a esperança se renova. O impossível está logo ali, ao alcance da mão, no dobrar da primeira esquina.

Ao acordar a imagem querida surge como um out door, em nossa mente, então, passeamos por seu corpo cálido, nos perdemos em seu olhar acolhedor, nos perdemos em um sorriso. Nada é mais importante para nós do que o desejo de encontra-lo, de ouvir de novo sua voz- que vez por outra é ouvida – também em sonhos,  e supremo prazer, tocar de leve sua pele, para sentir um arrepio de sentimentos inoportunos, que nos invadem,  e ficamos ali paralisados, como se admirássemos uma obra de arte.

Apaixonados, nós queremos tudo, envolver o outro em nosso amor, ouvir histórias, contar estrelas, andar de mãos dadas na praia. Queremos fazer parte de sua vida, conhecer seus amigos, seus planos e sonhos e compartilhar de todos eles.

 Na verdade, oque buscamos é a plenitude desse amor, o êxtase desse encontro que tanto impacta nossa vida e esse sentimento do divino habitando em nós.  A partir de agora só perto da pessoa amada nos sentiremos completos e a vida passa a ter um novo sentido para nós.

Mas minha amiga querida e se este louco amor não for correspondido? Então, surge a dor, vamos do céu ao inferno em segundos, todas as coisas carecem de sentido e nos tornamos tristes, pobres e totalmente vulneráveis.

 Dói demais ser metade para quem sonhou ser inteiro e como uma criança abandonada, só nos resta recolher os cacos deste sentimento imenso, despedaçado aos nossos pés.  A sensação de não ser mais nada, toma conta desta ferida aberta, nesta criancinha que perdeu “o brinquedo mais querido” e sozinha na floresta não acha o caminho de casa.

É hora, então, com arrastados passos de quem perdeu, fazer o caminho de volta para dentro de si mesmo.  E de cabeça erguida, com orgulho dos loucos e sonhadores colocar essa “paixão” numa estante bem alta, como a lembrança de um sonho bom, que vez por outra você poderá recordar.

Se estiver disposta a tudo isto, miga louca,  siga em frente em sua paixão. Caso contrário, ainda está em tempo, feche a porta de seu coração e não ame. Amar dói demais.