Temer no Roda Viva: foi golpe

Muito esclarecedora a entrevista do ex-presidente Michel Temer ao Programa “Roda Viva”, exibido nesta segunda-feira (16/10), na Tv Cultura. O próprio Temer em vários momentos da entrevista usou a expressão “golpe” ao se referir ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, da qual era vice-presidente.

“Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe. Recentemente o jornal Folha de São Paulo detectou um telefonema que o ex-presidente Lula me deu, onde pleiteava trazer o PMDB para tentar evitar o impedimento e eu tentei, mas a estas alturas eu confesso que a movimentação popular era tão grande e tão intensa que os partidos já estavam mais ou menos “vocacionados” para a ideia do impedimento” afirmou.

Ex-presidente Michel Temer

Michel Temer também confirmou na entrevista a conversa que teve com o ex-presidente Lula (revelada pela Folha em parceria com The Intercept). Segundo Temer, Lula pretendia na Casa Civil, fazer uma interlocução com o Congresso Nacional, em especial com o PMDB para fortalecer o governo da ex-presidente Dilma Rousseff e desta forma impedir o impeachment.

A divulgação de forma seletiva pela Operação Lava Jato, da conversa entre a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, avisando do envio do termo de posse para a Casa Civil, incendiou o País, provocando o clima propício para o golpe.

A confirmação de Michel Temer da veracidade do conteúdo revelado pela Folha, desmonta a tese do ex-juiz Sérgio Moro de que o ex-presidente assumiria o cargo para travar investigações contra ele na Lava Jato e alcançar o benefício do foro privilegiado.

Lembrando o caso

Após a gravação das conversas, Moro vazou um áudio de 1 minuto e 35 segundo no qual a então presidente Dilma Rousseff conversava com Lula sobre sua possível posse como ministro.

 Moro levantou sigilo dos autos às 16h19 e às 18h32 a Globo News revelou “ao vivo” a transcrição da conversa de 1min35s entre Lula e Dilma, retirada em meio a horas de gravação obtidas pelos investigadores.

Na entrevista ao “Roda Viva” Michel Temer afirma que o vazamento do áudio foi fator decisivo para o impeachment de Dilma Rousseff e que se Lula não tivesse sido impedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de tomar posse como ministro da Casa Civil, talvez, diferente de Dilma, com o bom trânsito que tinha no Congresso Nacional, pudesse ter impedido o “golpe”, expressão usada pelo próprio ex-presidente.

Temer também afirmou não ter dúvidas de que a “Operação Lava Jato” com seus vazamentos sedimentou o caminho para o impeachment de Dilma Rousseff.

As revelações que vem sendo feitas a conta gotas pelo The Intercept e seus parceiros, tem demonstrando como no filme “Guerra na Estrelas”, o lado escuro da força da Operação Lava Jato. Em que momento a Operação que prometia acabar com a corrupção endêmica no país, passou a ser utilizada para objetivos políticos, partidários e financeiros dos investigadores?

Em que momento o ex-juiz Sérgio Moro e seus comandados (procuradores) como um Darth Vader, com sua toga negra e a espada da Justiça, começou a exercer o poder metafísico e onipresente como no universo ficcional de George Luccas passando a agir acima da lei?

Os diálogos revelam atitudes criminosas do juiz e de procuradores, como indicação de testemunhas, vazamentos e inquéritos seletivos, solicitação de impeachment de ministros, perseguição política do partido que comandava a nação e seus aliados.

Houve corrupção? Sem dúvida que houve e precisava ser combatida, mas não ao arrepio da lei, onde “os fins justificavam os meios”, e, todas as artimanhas, tramoias e maracutaias foram utilizadas para incriminar investigados e reforçar posicionamentos políticos partidários.

Curiosamente, o ex-presidente Michel Temer, o grande beneficiado pelo golpe que destituiu uma presidente legitimamente eleita, deixou claro na entrevista do “Roda Viva” a contribuição da Operação Lava Jato para o golpe na democracia e a subsequente eleição de um presidente de extrema direita (Jair Bolsonaro), onde curiosamente, o ex-juiz, algoz do candidato preso(ex-presidente Lula), tornou-se o ministro da Justiça. Até parece um filme de ficção, mas não é.